18 de dez. de 2013
"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o
que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que
você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação
humana. Mas o que tinha, era seu. Mas se você tivesse ficado, teria sido
diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o
fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há
sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido
numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa
que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir,
mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada
seja áspero como um tempo perdido. Tinha terminado, então. Porque a
gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando
termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa
de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e
para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo
encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre
traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo. Mesmo que a
gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes
de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim." (Caio Fernando Abreu)
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