Faz tempo que as coisas não dão certo, eu sei.
Mas o que é dar certo?
Enquanto durar significa que tem dado certo, mas o seu caso eu sei, é que as coisas tem dado menos certo do que você gostaria, menos certo que nem chega a se tornar enquanto.
E pra você é tão difícil ter que recomeçar cada uma das vezes em que nada da certo. Saber o que falar e como falar, como se mostrar alguém interessante para alguém que você acha interessante.
A pressão do mundo, por sua vez, não colabora.
Os padrões sobre como ser uma pessoa interessante te empurra de cima do viaduto com a cara no chão.
É preciso ter um corpo bonito.
É preciso ter uma casa legal.
É preciso ter dinheiro para fazer coisas ainda mais legais.
É preciso ter roupas de boas marcas.
É preciso ter um celular que te ajude a mostrar tudo isso.
Mesmo?
As pessoas dão a entender que o importante hoje é aparentar mais e ser menos.
E nesse meio tempo está você tentando ser real. Eu te entendo.
Então é natural você se apegar nas vezes em que as coisas deram certo.
Você se abraça numa lembrança tão forte como se pedisse para que ela voltasse a ser real. “Eu quero viver aquilo de novo!” sua cabeça entoa sem parar.
E todo mundo te acha uma pessoa incrível.
Reconhecem seu valor, demonstram que gostam de estar ao seu lado, mas nem sempre sabem como colaborar. “Você é uma pessoa incrível, logo mais aparece alguém bacana pra você” é o que te dizem como se você estivesse implorando por uma reposta, como se estivesse pedindo ajuda de alguém. Essas são as pessoas e a terrível mania em julgar o mundo de acordo com o mundo delas. Então você se defende e se esconde.
Você evita socializar.
Você evita se expor com medo de que te machuquem, ainda que sem querer.
Você evita até mesmo ser você para assim evitar o risco de que talvez sintam pena de você.
É que você não sabe se consegue recomeçar de novo.
Você foi tão você com alguém que não ligou pra você que agora sente medo de ser você de novo. Então você se retrai. É uma defesa. Se esconde atrás de uma ou duas palavras, de uma saudação tímida.
O louco é que tudo o que você queria era conhecer novas pessoas e conseguir se abrir verdadeiramente para cada uma delas. Um nova pessoa. Mas você também tem medo do que vão pensar de você.
Você quer ter alguém pra conversar, não alguém pra colecionar.
Quando conhece uma pessoa nova renasce em você o sentimento de “será que vai ser com ela?” ao mesmo tempo que o de “essa pessoa jamais me daria bola…” e então você, fica numa cilada entre medos e vontades.
São poucas pessoas que te entendem, menos ainda as que já conseguiu se abrir por inteiro. Primeiro porque você não quer atrapalhar a vida de ninguém com histórias sobre a sua, segundo porque é difícil diferenciar quem está com vontade de te ouvir de quem te ouve para você parar de falar.
Você tem a sua última experiência muito fresca na cabeça.
Foi um momento em que resolver mergulhar como talvez nunca antes numa nova história, ou melhor, numa nova possibilidade, pois história mesmo só aconteceu na sua cabeça. Você foi real por inteiro, foi verdade em cada palavra. A rotina de conversas indicava que as coisas caminhavam para algo que poderia ser real como você tanto sonhava em voltar a viver. Vocês conversavam demais, você contou muitos dos seus segredos. Você fez esforços que nunca fez pra ninguém e deu uma atenção totalmente diferenciada. Colocou na cabeça que seria para essa pessoa a melhor pessoa que ela iria conhecer nessa vida e não mediu esforço pra provar isso. Era um prazer imenso demonstrar que você era real. Era também um estimulante desafio transformar os problemas que ouvia em motivações para ela encarar o dia. Você foi incrível!
Mas no relógio da vida vocês estavam em horas diferentes.
Então você desmoronou ao descobrir.
Desmoronou de ódio por dedicar tanto tempo para nada! “DE NOVO CARALHO?” bradava para si. Foi mais uma vez em que as coisas não deram certo como gostaria. Pelo menos não ainda.
Faz tempo que as coisas não dão certo, eu sei.
Mas faz tempo que você sabe que é a melhor pessoa em fazer as coisas darem certo pra alguém também; nós sabemos.
Você não é uma pessoa pra qualquer pessoa, no fundo, sabe disso.
Mas ao mesmo tempo que sabe, você sente uma raiva por ver que o seu relógio parece ser o mais atrasado entre todos os outros que conhece. Parece que a vida funciona mais devagar pra você. E não é só sobre ter alguém, você olha ao redor da sua vida e vê outras questões pra ter que lidar mas só enxergar dificuldade.
A vida não está fácil, mas quando foi?
Nós somos tudo o que temos nessa vida.
E sabendo disso, somos responsáveis em cuidar de nós mesmos; responsáveis em enxergar quando erramos e em reconhecer de tudo bom que temos.
Você é a melhor pessoa da sua vida.
Não tem ninguém no mundo que possa te fazer mais bem do que você mesmo.
Isso quer dizer que nessa busca eterna que é encontrar alguém pra acompanhar a nossa vida, você nunca pode esquecer que demore o quanto demorar até que alguém apareça, dure o que durar, você sempre terá você mesmo, você sempre deve se bastar, você sempre deve ter em mente tudo de bom que quer espalhar para o mundo, e sobretudo, você nuca deve esquecer de fazer a sua parte para que a vida a faça dela.
Não precisa ter pressa em viver.
(http://umtravesseiroparadois.wordpress.com)
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