4 de ago. de 2014

O que foi feito do amor?

Eu poderia ter me levantado e te dado um beijo sem aviso, te arrancando o fôlego só pelo desespero do nosso incômodo silêncio. Talvez você me olhasse como quem não entendeu nada e retribuisse, mas tive receio. Há algo de muito errado quando existe o receio de incomodar alguém amando; isto deveria ser um sinal nítido do fim de todas as coisas. Quando ela, a confiança decidiu ir embora da nossa relação, decidimos desafiar a natureza dos sentimentos e achar que tudo poderia continuar gravitacionando ao nosso redor, mas foi tudo ruindo, pouco a pouco, caindo e se quebrando; irremediavelmente nos abandonamos. Nos tornamos aqueles casais agridoces nos restaurantes e cinemas; anestesiados. O que foi feito do amor? Me levantei então e guardei o livro. Passei por você como alguém passa por um velho amigo de colégio e fui em direção a porta do quarto. Não precisamos dizer nada um ao outro, mas ambos sabíamos que naquele momento um adeus seco ecoou pelo corredor. Você olhou pra trás e fez menção de dizer algo e então se deteve. Fim. E olhando pro porta retrato tive a sensação de te ver ali naquele balanço de pneu velho, gargalhando. Olhei mais de perto e então engoli indigesto o sorriso, percebi sem querer que se tratava de outra pessoa estranha. Arrumei meus óculos e sem querer disse muito dissimuladamente, mas não tanto que eu não percebesse – "Nunca mais nos vimos."– É, nunca mais.

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