25 de ago. de 2014

"Marcio Rodrigues- Um travesseiro para dois"


"Sabe, ainda bem que as coisas dão errado.
Nossas histórias funcionam como o nosso corpo: expostas a interferências alheias capazes de machucar. A diferença que o nosso corpo cria anti-corpos e nossas histórias criam lições. E desde que aprendemos o que significa A, B, C, nós sabemos como as lições são importantes.
A vida tem dessas. As merdas que acontecem não são exclusividades da minha ou da sua; elas fazem mais parte da nossa rotina que a distribuição diária de “bom dia”.

O importante, no entanto, é ter claro na cabeça o que você quer da sua vida.
Vamos entender que uma vida é uma coleção de fases, sendo que às vezes a gente passa por umas figurinhas repetidas – esqueça aqui aquela analogia de ~figurinha repetida não completa álbum~. Toda a nossa estadia nesse mundo é composta por fases iguais vividas em diferentes momentos por diferentes pessoas. Tendo em mente que a vida são fases, vale o exercício de imaginar o que raios você está fazendo com a sua atual.

Você é uma pessoa real ou você aparenta ser uma pessoa real?
Quando você diz que gosta, você gosta mesmo ou fala por falar?
Quando você não quer mais, você empurra com a barriga ou empurra com a verdade?

O que seria do mundo se não fossem os dias ruins? Será que manteríamos uma constante melhoria ou nos acomodaríamos ao ver as coisas dando certo? Quando seu relacionamento está bem você procura melhorar ou procurar manter? Você acha que se melhorar estraga ou que se melhorar melhora?

Já que vocês existem, que sejam úteis pra nós, diabos de dias ruins.

Nós somos responsáveis pelo fim e começo de muitas das coisas.
Quando um pensamento ruim te invade, você é totalmente responsável por fazê-lo ir embora, por dar um fim, por entender que ele vai te fazer mais mal do que bem. Ou o contrário. Quando um pensamento bom te invade, você é totalmente responsável por fazê-lo ficar, por renovar, por entender que ele vai te fazer mais bem do que mal. Ou o contrário. Das poucas escolhas que temos nessa vida, essas são algumas delas.

Lá se foi a boca que tanto beijou.
No seu caso, talvez tenha ido por um erro seu ou uma soma de erros seus. Já no seu caso, talvez tenha ido porque não queria mais ficar.

É preciso preencher o coração com paz antes de preenchê-lo com amor.

Tuas histórias de dor existem pra te mostrar quanto amor tem em você.
Toda lágrima que te escorre encontra um começo de sorriso seu.
Não adianta querer espernear sobre o quão bosta a sua vida parece estar, também não estou dizendo pra lembrar do tal do “sempre tem alguém pior que a gente” – até porque acredito que você saiba disso -, não adianta solicitar seus amigos pra contar a mesma coisa mil vezes, sobre como você gostaria de voltar, sobre como você sente saudade do beijo, sobre como tudo te faz lembrar, sobre como sentiu um perfume igual no metrô, sobre como parece que as coincidências ao seu redor indicam que ainda há chance de volta, não adianta nada disso. O que adianta mesmo é você saber tim tim por tim tim tudo de bom que já fez por alguém – dane-se o mal que te fizeram -, e com isso, saber tudo de bom que você consegue fazer por alguém. Esta é só uma das vantagens de ser idiota no sentido de se apegar rápido demais, de se dedicar demais, de demorar pra esquecer, de gostar de lembrar, de amar as pequenas coisas, de comemorar feito revéillon um “vamos sair?”, de mandar beijo na catraca do metrô, de fazer coração com a mão em qualquer outra despedida, de rir feito besta com uma mensagem no celular, de fazer pose pra tirar selfie no meio do shopping, de sentir frio na barriga com um chamado no chat, de colocar a melhor roupa no dia do encontro, de olhar cada detalhe do rosto, de sentir o cheiro da pele, de ser praquela pessoa tudo o que gostaria que fossem pra você, de sorrir de verdade, de demonstrar que gosta, de babar nos refrões mais cafonas, de falar fininho no telefone, de mandar <3 <3 <3 no celular, de suspirar com os beijos dos seriados, de ficar relendo histórico de conversa, essas, são só algumas vantagens de ser idiota; idiota por alguém. São vantagens que só as pessoas que admitem que os dias bostas existem, que são importantes, mas que é preciso consumir a dor e não deixá-la consumir, pois é necessário estar pronto para viver os dias bons, feito idiota rindo sozinho do celular.

No fim das contas todos nós somos completos idiotas, nem que pelo menos uma vez na vida. Idiota aqui, claro, no sentido de se entregar de verdade às coisas mais simples, de amar cada coisinha besta e tão gostosa, de planejar mesmo sem ter ninguém na vida. As pessoas reais, aquelas que sabem que a vida é feita de dias bons e ruins, são as melhores em ser pessoas idiotas. E pra quê vergonha? Tem gente que esconde, tem gente que não, mas todo mundo sente a mesma coisa e fica do mesmo jeito. Amor é uma coisa só, seja aí na sua casa ou no outro lado do mundo. O roteiro é o mesmo com atores diferentes.

Se ainda ficou confuso saber quais as vantagens de ser idiota, explico em uma: a melhor vantagem em ser idiota gostando de cada coisa besta tipo sorriso no meio do beijo, é que você valoriza todas as coisas bestas, também conhecidas de mais importantes, tipo sorriso no meio do beijo. E isso te faz alguém real, alguém que sabe que os dias ruins podem até existir, mas que dias bons duram mais se você quiser."

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